Se falarmos das mulheres ,além da imagem da escrava no tronco,no canavial,na senzala,na cozinha,ama de leite, tem ainda a da sedutora.
Toda essa imagem faz parte de um discurso que se ainda se perpetua nos bancos das escolas,onde o negro sempre é retratado como subserviente. Na televisão isso não muda muito, nas novelas os atores negros estão sempre reduzidos a papeis subalternos e quando uma das novelas mais vistas no mundo teve como protagonista uma escrava o autor logo tratou de colocar uma escrava branca ,sob a alegação que não havia uma atriz negra capaz de interpretar o papel.
Em um país que insiste em tratar a escravidão não como uma vergonha ,mas sim como um acontecimento ocasionado por homens fracos ,incapazes de lutar por sua liberdade e tem orgulho da sua miscigenação forjada no estupro de milhares de mulheres negras escravizada, mas nega os seus antepassados por medo de ser apontado como negro, não é de se espantar que continuemos a reproduzir o que esta nos livros de História.O povo brasileiro precisa se conscientizar que o nosso diferencial em relação aos outros é exatamente essa miscelânia de culturas, onde fez surgir o que Darcy Ribeiro chamou de um "POVO NOVO".
"De um novo povo,feito de grupos milenares e somados às diferencas ,surge a originalidade brasileira"
Onde os heróis são sempre o homem branco e os outros....bom os outros são apenas os outros.Guerreiros como Dragão do Mar, Zumbi dos Palmares,Benedito Meia-Légua, José Luiz Napoleão, Viriato Canção-de-Fogo são lembrados apenas no mês de novembro, em razão do Dia da Consciência Negra; quando falamos das mulheres negras, que contribuíram de tantas formas na luta contra a escravidão, além da contribuição literária e social do Brasil, o quadro é ainda pior ,sequer são citadas.
O apagamento dessas mulheres negras da História é um descaso ao gênero femenino negro ,pois causa um desconhecimento das meninas negras ,que além de poucas referencias negras de grande expressão lhe são negado o conhecimentos de grandes mulheres negras da História do seu país.
Essas mulheres simplesmente foram excluídas da História, em livro didático algum se cita:
Constança de Angola, escravizada teve seu filho no período da LEI Nº 2.040, DE 28 DE SETEMBRO DE 1871, foi jogado na fornalha por chorar demais. Constança, acabou acorrentada para que não pudesse se vingar,conseguiu fugir e juntou se a outros guerreiros. Lutou muito,ate a sua morte em duelo.
Zacimba Gaba,princesa negra trazida muito nova, mas soube esperar para se livrar dos abusos que sofria, junto com seus irmãos. Envenenamento foi sua arma, durante um longo período alimentou seu Senhor a conta gotas. Quando ele morreu, livrou seus irmãos e foi se aquilombar no meio da mata fechada do norte do estado do ES liderando várias revoltas e muitas vitórias para seu povo africano.
Maria Filipa – Natural de Itaparica, a heroína negra foi uma liderança destacada em 1822, na luta contra o domínio português, quando comandou dezenas de homens e mulheres, negros e índios, na queima de 42 embarcações de guerra que estavam aportadas na Praia do Convento, prontas para atacar Salvador. Esta ação foi vital para a Independência da Bahia. Em sua biografia destaca-se também a lendária história de quando Maria Felipa usou galhos de cansanção para dar uma surra nos vigias portugueses Araújo Mendes e Guimarães das Uvas.
Luiza Mahin – Trazida à Bahia pelo tráfico de escravos, desempenhou importante papel na Revolta dos malês, última grande revolta de escravos ocorrida em Salvador (1835). Luiza era uma africana inteligente e rebelde que fez sua casa de quartel general das principais lutas abolicionistas. Mãe de Luiz Gama, poeta e abolicionista, ela acabou deportada para a África devido à participação em rebeliões negras. Pertencente à etnia jeje tem seu nome estampado em praça pública, Cruz das Almas, São Paulo.
Lélia Gonzalez – Mineira de nascimento (1935), filha de um ferroviário negro e mãe de origem indígena empregada doméstica e penúltima de dezoito irmãos migra em 1942 para o Rio de Janeiro. Sua trajetória guarda pouca semelhança com a maioria da população negra, pois ascende de babá a professora universitária. Engajou-se na luta contra o racismo e sexismo na década de 70, no Rio de Janeiro, ainda um período de forte repressão dos governos militares. Pioneira nos cursos sobre Cultura Negra, o qual destacamos o 1º Curso de Cultura Negra na Escola de Artes Visuais no Parque Lage. Esta escola foi também lugar de expressão de vários artistas e de intelectuais negros.
Acotirene- foi uma matriarca do quilombo dos Palmares, onde já estava antes de Ganga-Zumba e Zumbi. Era respeitada como conselheira para casos rotineiros e de batalha, considerada mãe de todos.
Anastácia - escrava que foi punida por rejeitar os assédios de um homem branco e teve que usar uma máscara de ferro até o fim de sua vida.
Aqualtune– princesa africana , filha de um rei no Congo, foi vendida como escrava e trazida para o Brasil. tornou se grande ícone para as mulheres negras brasileiras.
Carolina Maria De Jesus – catadora de papel ,moradora da favela do Canindé virou escritora ao ter seu primeiro
livro publicado, Quarto de Despejo.
Dandara dos Palmares – mulher
negra guerreira na resistência contra a escravidão no Brasil, líder do
Quilombo dos Palmares e companheira de Zumbi.
Esperança Garcia- escrava e
teve coragem de escrever uma carta para o então presidente da província,
denunciando os maus tratos que sofria junto ao seu filho.
Eva Maria do Bonsucesso -quitandeira Eva Maria, escrava
alforriada que vendia verduras e frutas. Depois de ter sido agredida por um homem branco e rico,
conseguiu que o mesmo fosse preso e condenado pela agressão.
Laudelina de Campos – Primeira mulher na luta por direitos trabalhistas para as empregadas domésticas , combateu o racismo e a forte exploração sofrida
por faxineiras, babás e cozinheiras.
Maria Aranha – líder do quilombo do Mola, em Tocantins, liderou seu povo contra invasões, vencendo todos os ataques dos escravistas e sustentando uma sociedade altamente organizada e eficiente politicamente.
Maria Firmina dos Reis – publicou,o primeiro romance abolicionista
brasileiro,Úrsula.Autora de poesias e do conto “A
Escrava”, chegou a fundar uma escola mista (para meninas e meninos)
gratuita, o que causou muita polêmica.
Mariana Crioulá –
líder de uma das maiores revoltas de escravos no Rio de Janeiro, na
região do Vale do Café, Mariana Crioula foi aclamada como rainha do seu
povo ao lado de Manoel Congo, chamado de rei.
Na Agontimé -
Antiga rainha do reino de Daomé ( conhecido hoje como Benim), foi vendida como escrava e foi parar no estado do Maranhão,
onde foi renomeada Maria Jesuína. Pesquisas históricas a apontam como fundadora da Casa das Minas.
Tereza de Benguela – líder do quilombo de Quariterê. Dia 25 de Julho no Brasil é
oficialmente o dia de Tereza de Benguela, data reafirma a luta
das mulheres negras no país.
Tia Ciata– celebrada como uma das pioneiras do samba brasileiro e importante fortalecedora do Candomblé no país, mesmo fugindo das perseguições e lutando contra uma sociedade contaminada pelo racismo e escravidão.
Tia Simoa – liderança na luta contra a escravidão no Ceará.
Zeferina– ,líder do quilombo de Urubu, na Bahia, que lutou contra a escravidão.
Antonieta de Barros - primeira deputada negra do Brasil, que também era uma grande jornalista e educadora.
Essa é uma pequena contribuição, para auxiliar em futuras pesquisas,a lista ainda esta pequena e dente a crescer a medida que formos nos aprofundando nas pesquisas. Sabemos que ainda há muitas guerreiras que a história insiste em querer esconder.
Porém a nossa insistência será ainda maior ,e traremos a luz a história de homens e mulheres que a visão colonizadora tentou jogar no ostracismo e mostrar para esse "POVO NOVO" tem muito de do que se orgulhar,que somos descendentes de muitos guerreiros e guerreiras que em nada tem a ver com a ideia que os grandes tumbeiros carregavam pessoas incapazes de lutar por sua liberdade e aceitavam passivamente a condição de homem escravizado.
Fontes Auxiliares
https://prazeresdeamelie.wordpress.com/2009/03/01/breve-historia-de-zacimba-gaba/
http://www.palmares.gov.br/?p=1901&lang=en